A Antiprincipesca Cartada do Governo
- Mauricio Alves
- 18 de mar. de 2016
- 2 min de leitura

A icônica obra "O Príncipe", de Nicolau Maquiavel, até os dias de hoje, costuma encabeçar as listas de livros mais vendidos, assim como é figura carimbada nos rankings de obras mais influentes da história da humanidade, constituindo-se como leitura obrigatória a qualquer político ou estudante da área de humanas que se preze. Um dos conceitos que norteia o tão importante livro é o de "virtú"(traduzindo livremente, "virtude"), que resumidamente constitui o conjunto de atributos que um príncipe deve ter e/ou aparentar para se manter no poder. A partir desse ponto de vista, constrói-se um consenso: a nomeação de Lula para o Ministério da Casa Civil demonstra uma brutal falta de virtú da administração atual. Discorrendo sobre as consequências imediatas e a longo prazo de tal atitude, Maquiavel provavelmente apontaria pelo menos quatro das quais são produto da falta de virtú. A primeira é a possibilidade (para não colocar diretamente como realidade) de enrigencimento da concepção de que o ex-presidente é culpado pelas acusações feitas contra ele e busca no governo uma blindagem para lidar com as investigações. Por mais que Lula seja absolvido pela justiça, "nas graças do povo" (como diria o filósofo florentino), será considerado culpado, ao menos a nível moral. A segunda, mais uma vez retornando ao efeito popular gerado, é a intesificação da radicalização do debate político nacional, traduzida através da rejeição ao governo central nas suas formas mais explícitas. Complementando a ira do povo, a nomeação, inoportunamente, foi realizada apenas um dia antes da formação da comissão especial que lidará com o processo de impeachment na Câmara dos Deputados. A terceira, atreladamente à primeira, e talvez a mais óbvia, é a integral deslegitimação, não só do Governo Dilma Roussef, como de toda a administração petista, sendo considerado este, muito além de um ato de imprudência, um ato de covaria e descontrole por parte da presidente e do seu agora Ministro da Casa Civil. A última e não menos importante: o ofuscamento do principal inimigo político do governo, também em meio a acusações de corrupção e de obstrução de justiça, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que a partir desse ato, se posiciona mais confortavelmente, ao ver aliviadas as pressões sobre sua renúncia ao cargo de presidente da Câmara. Conclui-se, sob à perspectiva maquiavélica, que a nomeação do ex-presidente Lula ao Ministério da Casa Civil, se houvesse ocorrido na Itália renascentista, certamente teria seu espaço garantido como um exemplo caricato de carência de virtude, ao passo que desestabiliza ainda mais a já complicada posição da legenda no cenário político interno e externo, podendo ser considerada impossível qualquer vitória eleitoral considerável do PT ao menos em 2016 e 2018. Tal demonstração de inabilidade política, que me fez desviar da pauta da política externa, sintetiza a melancólica situação política que o Brasil vive.
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