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O Esporte Universitário e a Questão Racial nos EUA


Não satisfeitos com geopolítica, econômica e militar, os EUA são também uma superpotência esportiva. Ostentadores de atletas lendários como Michael Phelps e Carl Lewis, dois dos cinco maiores medalhistas olímpicos da história, os norte americanos podem ser vistos facilmente como detentores do posto de maior potência atlética da história. O mais interessante é que a fórmula para o sucesso estadunidense, o massivo investimento no esporte universitário, às vezes traz para a opinião pública mundial uma mistura de alto nível esportivo e surpreendente consciência social.

Desde o famoso caso de Jesse Owens, vencedor de 4 medalhas de ouro em pleno território nazista, os atletas estadunidenses vêm demonstrando cada vez mais engajamento e influência na questão racial no país. Outro caso icônico é o dos também corredores John Carlos e Tommie Smith, que chamaram a atenção da opinião pública ao erguer o punho direito saldando o movimento Black Power em meio ao estádio olímpico mexicano na Cidade do México, levando ao mundo a imagem da luta pelos direitos civis nos EUA da década de 60. Saindo do campo do atletismo olímpico e trazendo a linha cronológica para um plano mais atual, temos os casos dos atletas da NBA em 2014. Primeiramente, com a manifestação por parte dos jogadores do Los Angeles Clippers contrária aos comentários racistas propagados pelo dono do clube, Donald Sterling, que lhe renderam o banimento eterno da liga. Posteriormente, com o movimento em retaliação à morte de Eric Garner por policiais brancos, no qual os atletas da maior liga de basquete do mundo estamparam em suas camisas a frase "I Can't Breathe" ("Eu não consigo respirar", em tradução livre), as últimas palavras do rapaz negro.

Adjunto à questão da identificação racial, outro fator determinante no posicionamento dos atletas é a inclusão dos mesmos no meio acadêmico. Estima-se que uma universidade comportadora das NCAAs (as ligas esportivas universitárias) podem angariar até 200 milhões de dólares para investir na formação acadêmica e atlética dos indivíduos concomitantemente. Por mais que a universidade assuma um caráter secundário na trajetória do atleta, nela o mesmo é forçado a se deparar com discussões (sejam de cunho social, econômico, político, etc.) recheadas de criticismo e descompromisso com o senso comum norte americano. Além do mais, os universitários yankees já vêm há muito atestando tal descompromisso ao questionar a enraizada concepção belicista-intervencionista da política externa norte americana, desde as tensões envoltas à desocupação iraquiana até a afirmação, através de uma pesquisa na Universidade de Harvard, de que os EUA representam uma ameaça maior à ordem mundial do que o Estado Islâmico (um dos filhos do intervencionismo estadunidense no Oriente Médio).

Tal cruzamento entre o âmbito esportivo e o acadêmico representa nada menos do que a inserção concomitante da figura do herói vencedor, símbolo da moral e da ética centenária norte americana, com um representante de um grupo excluído na sociedade que a partir do ingresso ao ambiente acadêmico, passa a se embasar em um discurso altamente crítico, politizado e, acima de tudo, disposto a usar sua influência esportiva para se posicionar quanto às questões sócio-humanitárias.

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