top of page

A Política do Adestramento Civil


O crime, a violência, os delitos e outros sinônimos são um problema famoso de toda a sociedade, e, embora seja recorrente ainda não tem solução. Mas será que todo o foco nos estudos contra o crime deveriam focar na solução? Por que não há maior incentivo na prevenção? É claro que os problemas atuais precisam ser resolvidos, mas não adianta podar o mato que cresce em sua calçada, pois se não matá-lo, irá crescer novamente e seu trabalho terá sido em vão, é somente uma questão de tempo. É preciso entender que os delitos da sociedade precisam ser impedidos de ocorrer, pois “curar” um atrás do outro só irá gerar um ciclo infinito, como presenciamos.


Mas afinal, qual é a raiz dos crimes? Os delitos que mais observo onde vivo tem sua fonte no desejo primitivo de ter o que é do outro, e se esse sentimento surge, é porque uma pessoa tem e outra não. Quem impôs essas posições se não a própria sociedade? A mesma que teme que os crimes a destruam? É um tema antigo e conhecido por todos, mas o problema não é simplesmente umas pessoas terem mais que as outras, e sim alguns terem a capacidade de ter o que querem e outros não. Infelizmente, é nisso que nosso modelo vigente se baseia, nesse caso é inútil resistir, as políticas que nos regem produzem filhos rebeldes que vão contra a própria matriz.


Já que impedir a ocorrência dos crimes é impossível sem a mudança total de nosso modelo social, focamos na tentativa da solução do problema (mesmo tendo noção de que essa solução é somente a curto prazo), dessa forma punimos os malfeitores como animais, trancamo-los em cubos de concreto e fazemos com que eles sofram pelos crimes que os fizemos cometer. E assim os detentos passam seus anos, normalmente em condições precárias, cobertos de outros malfeitores com a cabeça tão danificada como a deles, e logo após sua isolação são mandados de volta para a convivência com todo o resto do povo. A lógica é que, sabendo que serão punidos por seus crimes, não o cometerão novamente.


Mas traumatizar uma pessoa por algo que fizeram de errado em um ambiente que as levou a fazer isso com facilidade é o jeito certo de resolver o problema? O ensinamento através do trauma costuma produzir o resultado contrário, podemos ver como exemplo paralelo a situação em que muitas crianças traumatizadas quando infantos se encontraram no futuro; algumas passam pela educação autoritária de sua infância se tornando adultos adestrados (e muitos se voltam ao ostracismo), porém outras se revoltam inconscientemente, e como resultado alguns outros se tornam famosos por atos doentios e insalubres à sociedade, como a maioria dos conhecidos “assassinos em série”.


Tendo noção de que o adestramento nem sempre é útil, a sociedade admitiu a estratégia de eliminação, porém essa, por ser uma política inumana não é (diretamente) utilizada em muitos países, essa ideia se baseia em identificar um sujeito perigoso e então matá-lo, pois dessa forma é certo de que ele não cometerá mais crimes. Isso ocorre diretamente através da pena de morte, ou indiretamente através de acontecimentos como a cachina da Candelária, de 1993. Mas se pensarmos que muitos crimes são realizados pela população de baixa renda, e se eliminarmos essa população, quem irá trabalhar para manter a elite?


É preciso ter a noção de que, em nossa sociedade, o pobre revoltoso com sua situação, não só é um perigo em potencial, mas também é o comprovante da riqueza de outros, devemos entender que aqueles que cometem delitos e vão para a cadeia irão voltar para a sociedade, e a questão é: como queremos que eles voltem? Traumatizados com sua consciência danificada, com a pequena chance de serem adestrados corretamente ou queremos que eles voltem saudáveis e prontos para servir (como sempre serviram) a política que se alimenta deles? Se nossa sociedade quer se manter abusiva e inumana como ela é, é preciso tratar bem seus escravos.


Siga o NOP
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Social Icon
Posts Recentes
Pesquisa por tags
Nenhum tag.
bottom of page